segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Insiste a tempo e fora de tempo

Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo, 46,14-15: CCI, 41,541-542)
Sec. V



A desgarrada não reconduzistes e a que se perdia não fostes procurar (Ez 34,4). Aqui às vezes caímos em mãos dos ladrões e nos dentes dos lobos vorazes. Rogamos, pois, que oreis por estes nossos perigos. Também as ovelhas são rebeldes. Quando procuramos as erradias, declaram não ser nossas, para seu erro e perdição: "Que quereis de nós? Por que nos procurais?" Como se não fosse o mesmo motivo que nos faz querê-las e procurá-las; porque se desviam e se perdem. "Se estou no erro, diz, se na morte, que queres de mim? Por que me procuras?" Justamente porque estás no erro, quero reconduzir-te; porque te perdeste quero encontrar-te. "Quero assim errar, quero assim me perder".

Queres vaguear assim, queres perder-te assim? Muito bem, mas eu não quero. Ouso dizer isto mesmo: sou importuno. Escuto o Apóstolo que diz: Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo (2Tm 4,2). Com quem, a tempo? Com quem, fora de tempo? A tempo com os desejosos, fora de tempo com os que não querem ouvir. Sou inteiramente importuno, ouso dizer: “Tu queres errar, tu queres perecer; eu não quero". E afinal não o quer Aquele que me faz tremer. Se eu quiser o erro, vê o que me dirá, vê como me repreenderá: Ao desgarrado não reconduzistes, ao que se perdera não fostes procurar. Temerei mais a ti do que a Ele? Teremos todos de nos apresentar ao tribunal de Cristo (2Cor 5, 10).

Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Quer queiras quer não, assim farei. E se, em minha busca, os espinhos dos bosques me rasgarem, eu me obrigarei a ir por todos os atalhos difíceis. Baterei todos os cercados; enquanto me der forças o Senhor que me ameaça, percorrerei tudo sem descanso. Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Se não queres que eu sofra, não te desgarres, não te percas. E pouco dizer que tenho pena de ti, desgarrada e perdida. Tenho medo de que, se te abandonar, venha a matar o que é forte. Escuta o que se segue. E ao que era forte, matastes (Ez 34,3). Se eu abandonar a desgarrada e perdida, o que é forte terá gosto em desgarrar-se e perder-se.

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